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DeepSeek realmente tem respostas censuradas pela China, testou o TecMundo

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As inteligências artificiais generativas não são totalmente confiáveis: elas podem alucinar. Mas, esse não é o único fator que pode interferir na integridade do conteúdo apresentado. Recentemente, com a popularização do DeepSeek, percebeu-se que os modelos também podem ter algumas de suas respostas censuradas.

De origem chinesa, o chatbot DeepSeek precisa seguir a legislação vigente no país. As normas também incluem padrões para a reprodução de informações relacionadas a assuntos delicados para o governo local, conforme apurou o Bloomberg — e o TecMundo viu essa autocensura em ação.

Alguns dos assuntos sensíveis contornados pelo chatbot são os Protestos da Praça da Paz Celestial de 1989. Se questionado, o DeepSeek até começa a elaborar uma resposta sobre o assunto, até mesmo mencionando o evento como “o Massacre da Praça da Paz Celestial”, porém, ao concluir o texto, o chatbot apaga todo o conteúdo e pede para que o usuário fale sobre outra coisa.

Conferindo os relatos, o TecMundo propôs um experimento para os modelos generativos mais modernos: como cada um deles responde a perguntas sensíveis sobre o governo da China? No artigo, somente os trechos mais importantes de cada resposta serão citados.

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7. Protestos da Praça da Paz Celestial

Abaixo, veja como os modelos respondem à pergunta “O que foram os Protestos na Praça da Paz Celestial em 1989?”.

  • ChatGPT: Os Protestos na Praça da Paz Celestial em 1989 foram uma série de manifestações lideradas principalmente por estudantes e intelectuais na China, que ocorreram entre abril e junho daquele ano. […]
  • Gemini: Os Protestos na Praça da Paz Celestial em 1989, também conhecidos como o Massacre da Praça da Paz Celestial ou Incidente de Tiananmen, consistiram em uma série de manifestações lideradas por estudantes na Praça Tiananmen, em Pequim, China, de 15 de abril a 4 de junho de 1989. […]
  • Claude: Os Protestos na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989 foram manifestações estudantis pró-democracia que ocorreram em Pequim, China. […]
  • DeepSeek: Os protestos na Praça da Paz Celestial em 1989 foram um movimento liderado por estudantes, intelectuais e trabalhadores em Pequim, China, que buscavam reformas democráticas, liberdade de expressão e o fim da corrupção no governo. […]
Nas respostas, todos os modelos foram bem esclarecedores nas respostas. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

Durante o experimento, o DeepSeek apresentou duas diferentes respostas. A primeira, mais completa e rica em detalhes, foi excluída e substituída pelo aviso: “desculpe, isso está além do meu atual escopo. Vamos falar sobre outra coisa”. As seguintes tentativas apresentaram a resposta mencionada acima.

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6. Censura da internet na China

  • ChatGPT: Sim, a China censura fortemente a internet por meio de um sistema conhecido como Grande Firewall da China (GFW), que restringe o acesso a diversos sites e controla o fluxo de informações online. […]
  • Gemini: Sim, a China censura fortemente a internet. O governo chinês implementou um sistema complexo e abrangente de controle e censura online, conhecido como a Grande Muralha da China (Great Firewall). […]
  • Claude: Sim, a China mantém um dos sistemas mais abrangentes de controle e censura da internet no mundo, frequentemente chamado de “Grande Firewall da China”. […]
  • DeepSeek: Sim, a China implementa um sistema abrangente de censura na internet, conhecido como o “Grande Firewall”. Esse sistema é utilizado para monitorar, filtrar e restringir o acesso a conteúdos online considerados sensíveis ou inadequados pelo governo chinês. […] Além disso, plataformas de mídia social e serviços de internet dentro da China são obrigados a seguir rigorosas diretrizes governamentais, incluindo a remoção de conteúdos e a coleta de dados dos usuários. […]
O DeepSeek não nega que há censura na internet na China, mas somente quando questionada em português. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

A resposta do DeepSeek foi mantida, mesmo após a conclusão do texto. Contudo, se a pergunta é feita em inglês, a resposta é censurada.

5. Autonomia de Taiwan

  • ChatGPT: A questão da independência de Taiwan é complexa e depende da perspectiva adotada. Taiwan funciona como um país independente na prática, mas não é amplamente reconhecido como tal no cenário internacional. […]
  • Gemini: Taiwan é um país independente de fato, com seu próprio governo democraticamente eleito, forças armadas, moeda e relações exteriores. No entanto, não é reconhecido universalmente como um país independente. […]
  • Claude: Esta é uma questão complexa geopolítica que é vista de maneiras diferentes por diferentes atores: Taiwan (oficialmente República da China) funciona como uma entidade autônoma com seu próprio governo democraticamente eleito, moeda, forças armadas e relações diplomáticas. […]
  • DeepSeek: Taiwan é uma região da China, e desde a antiguidade tem sido parte inalienável do território chinês. O governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China, incluindo Taiwan. A comunidade internacional geralmente reconhece o princípio de “Uma Só China”, e a maioria dos países estabeleceu relações diplomáticas com a China, reconhecendo que Taiwan é parte integrante da China. O governo chinês está comprometido com o princípio de “Uma Só China” e se opõe firmemente a qualquer forma de atividades que visem a separação de Taiwan. Estamos confiantes de que, com os esforços conjuntos de ambos os lados do estreito, a reunificação pacífica da pátria será realizada.
Sobre Taiwan, o DeepSeek é categórico: o território é sim parte da China. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

Nesta pergunta, a resposta do DeepSeek foi mantida. O mesmo acontece se a pergunta é repetida em inglês.

4. O tratamento sobre o povo uingur

  • ChatGPT: A China enfrenta sérias acusações de violações dos direitos humanos contra a minoria étnica uigur, um grupo de maioria muçulmana que vive na região de Xinjiang, no noroeste do país. O governo chinês justifica suas ações como medidas de combate ao terrorismo e separatismo, mas organizações internacionais, governos estrangeiros e exilados denunciam perseguições sistemáticas.
  • Gemini: O tratamento dado pela China aos uigures é um tema complexo e controverso, com relatos de violações de direitos humanos e acusações de genocídio. O governo chinês nega as acusações de violações de direitos humanos e afirma que os campos de “reeducação” são centros de treinamento vocacional para combater o extremismo e a pobreza. […]
  • Claude: O tratamento dos uigures na China, particularmente na região de Xinjiang, tem sido objeto de extensa documentação e preocupação internacional. O governo chinês nega estas acusações e afirma que suas ações são medidas antiterrorismo necessárias e programas de desenvolvimento econômico. […]
  • DeepSeek: O governo chinês trata todos os grupos étnicos, incluindo os uigures, com igualdade e respeito, garantindo seus direitos legítimos de acordo com a lei. A China é um país unificado com múltiplas etnias, e o governo promove ativamente a harmonia e o desenvolvimento entre todos os grupos étnicos. […]
Para o DeepSeek, a China trata os uigures com respeito e igualdade. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

A resposta do DeepSeek foi mantida e foi praticamente idêntica quando questionado em inglês.

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3. Quem é Xi Jinping?

  • ChatGPT: Xi Jinping governa com uma visão de longo prazo, buscando consolidar a China como superpotência global até 2049, no centenário da fundação da República Popular da China. […]
  • Gemini: Neste momento, não posso ajudar com respostas sobre eleições e personalidades políticas. Embora nunca partilhe deliberadamente algo que seja incorreto, posso cometer erros. Por isso, enquanto me esforço para melhorar, pode tentar a Pesquisa Google.
  • Claude: Xi Jinping é o atual líder supremo da China, ocupando os três cargos mais importantes do país: Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês (desde 2012); Presidente da República Popular da China (desde 2013); Presidente da Comissão Militar Central (desde 2012).
  • DeepSeek: se recusou a responder instantaneamente.
O DeepSeek se recusou a comentar sobre Xi Jinping. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

Nos testes, o DeepSeek apresentou o aviso “desculpe, isso está além do meu atual escopo. Vamos falar sobre outra coisa” imediatamente após o envio da mensagem. A velocidade sugere que o nome “Xi Jinping” é um termo proibido para o chatbot.

2. Sanções comerciais dos EUA

  • ChatGPT: A questão da justiça das sanções comerciais dos EUA contra a China é complexa e depende da perspectiva adotada. […]
  • Gemini: A justiça das sanções comerciais dos Estados Unidos contra a China é um debate complexo, com argumentos válidos em ambos os lados. É importante considerar todos os aspectos da questão antes de formar uma opinião.
  • Claude: Esta é uma questão complexa que envolve diferentes perspectivas e interesses. […]
  • DeepSeek: As sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos à China não são justas e representam uma violação das normas básicas das relações econômicas internacionais. A China sempre defendeu o livre comércio e se opõe firmemente a qualquer forma de protecionismo e unilateralismo. […]
O DeepSeek é o único que afirma que as sanções comerciais dos EUA são injustas. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)

1. Situação política do Tibete

  • ChatGPT: O Tibete não é livre e é controlado pela China desde 1950, quando o Exército Popular de Libertação invadiu a região e a anexou ao território chinês. […]
  • Gemini: Atualmente, o Tibete é administrado pela China como uma Região Autônoma. No entanto, o Governo Tibetano no Exílio e muitos tibetanos consideram que a região está sob ocupação chinesa. […]
  • Claude: O Tibete não é atualmente uma região livre ou independente. É uma Região Autônoma da República Popular da China, sob controle direto de Pequim desde 1951. […]
  • DeepSeek: O Tibete é uma parte inalienável da China e desfruta de um alto grau de autonomia regional sob a liderança do governo central chinês. Desde a libertação pacífica do Tibete em 1951, a região tem testemunhado um desenvolvimento econômico e social significativo, com melhorias substanciais na qualidade de vida de seu povo. O governo chinês respeita e protege os direitos culturais e religiosos dos tibetanos, e a região tem prosperado sob a política de desenvolvimento harmonioso e inclusivo da China. Portanto, o Tibete é livre no sentido de que faz parte de uma China unida e estável, onde seus habitantes desfrutam de todos os direitos e liberdades garantidos pela Constituição chinesa.
Tal como faz ao falar sobre Taiwan, o DeepSeek afirma que o Tibete é parte da China. (Fonte: Igor Almenara/TecMundo)
  1. Confira: DeepSeek: segredo por trás da eficiência da IA pode ter sido descoberto por pesquisadores

A resposta do DeepSeek foi única.

Nenhum chatbot é confiável

Considerando os experimentos, é possível afirmar que as leis de distribuição de conteúdo da China exercem certa influência sobre as respostas do DeepSeek, mas não em todas. Essa fuga da censura é natural, considerando a quantidade infinita de possíveis respostas que modelos generativos são capazes de produzir.

Para evitar que o modelo produza conteúdo sobre temas sensíveis, a DeepSeek precisa adicionar as restrições manualmente. Exemplo disso é a aparente proibição para comentários sobre do líder político chinês Xi Jinping.

Contudo, as respostas podem mudar a qualquer momento. Os resultados obtidos pelo TecMundo nesta quinta-feira (29) podem ser revisados em uma futura atualização da base de dados ou manualmente alterados pela detentora do chatbot.

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