Poucos sabem, mas um episódio ocorrido na sede do Facebook, na Califórnia, em 2017, revelou muito sobre até que ponto a tecnologia já era capaz de ir.
O engenheiro Tommer Leyvand entrou na sala com um smartphone amarrado no boné. Ele transformou o dispositivo em um equipamento capaz de identificar pessoas escaneando seus rostos.
A princípio, todos pensaram que seria mais uma invenção divertida, mas logo ela demonstrou seu lado assustador. Isso porque, além de escanear rostos e reconhecer pessoas, a ferramenta começou a chamar pelos nomes dos indivíduos.
Risco à privacidade
O potencial da invenção foi um pouco além do que Tommer esperava. Ela acabou sendo arquivada pelo Facebook por vários motivos. Entre os principais, estavam questões relacionadas à privacidade das pessoas.
Com o avançar do tempo, no entanto, o cenário mudou completamente, alterando inclusive a noção de respeito a questões éticas. Gigantes do mercado, como o Facebook, assistem agora empresas menores e sem muita responsabilidade derrubando barreiras que antes tinham sido respeitadas.
A Clearview AI e a PimEyes são dois exemplos de empresas que lançaram ferramentas de reconhecimento facial, capazes de combinar o rosto da pessoa com a descoberta de uma infinidade de informações pessoais com apenas um clique.
Ética em segundo plano
Essa não é, necessariamente, uma tecnologia nova, mas o simples lançamento para uso coletivo representa uma mudança do compromisso ético de empresas de tecnologia.
Em resumo, ao colocar a ética em segundo plano para favorecer a inovação, as empresas estão dispostas a abrir uma “caixa de pandora” que poderá ser impossível de fechar novamente.
O Google, assim como o Facebook, também já havia descoberto essa tecnologia, mas preferiu não levar adiante, também considerando os riscos potenciais envolvidos.
Agora, porém, tudo está prestes a mudar, com um mundo cada vez mais sem fronteiras pessoais, onde um simples clique instantâneo é capaz de revelar a identidade e detalhes pessoais de alguém sem o devido consentimento.
Extinção do ‘estranho’
Essa realidade coloca a humanidade diante de uma situação em que o termo “estranho”, por exemplo, pode se tornar obsoleto. Os dispositivos eletrônicos poderão, em breve, reconhecer rostos e fornecer dados de antecedentes da pessoa em tempo real.
O que antes era uma ferramenta para uso de autoridades de segurança pública pode ser tornar um recursos regular, presente nos smartphones e até em óculos de realidade aumentada. É a modificação da própria estrutura de interação social e da privacidade.