Em 20 novembro celebramos o Dia da Consciência Negra, data que relembra a luta de Zumbi dos Palmares contra o racismo e a escravidão. No entanto, o contexto histórico por trás da escolha da data é, nem tanto de celebração, mas de reflexão sobre as consequências profundas que o racismo imputa na sociedade, agindo de forma tão internalizada e até normalizada, que o simples ato de falarmos sobre isso gera desconforto em muitos círculos.
Especialmente nos ambientes de trabalho, a discussão é ainda mais delicada e igualmente urgente, já que ela impacta diretamente na própria estrutura social. Um exemplo claro disto é que, em 2021, a taxa de pobreza entre a população preta e parda era de 73% segundo levantamento do IBGE.
Ou seja, como cada empresa trabalha, o tema pode alimentar ou quebrar os ciclos que perpetuam a manutenção do racismo estrutural, impactando na própria estrutura social. Inclusive, é por essa razão que atualmente já não podemos mais pensar, simplesmente, em políticas de conscientizar sobre o racismo, mas criar ambientes que o combatam ativamente.
Diversidade traz vantagens sociais e competitivas
Mesmo que duas pessoas tenham exatamente as mesmas experiências e oportunidades ao longo da vida, internamente elas são únicas e têm percepções diferentes de situação e contextos, permeadas por suas vivências. Sendo assim, mesmo que tenham vindo da mesma classe social, estudado nas mesmas escolas e frequentado os mesmos grupos sociais, dois gerentes de etnias diferentes terão percepções distintas de um mesmo cenário, contexto ou problema.
“Em outras palavras, criar culturas de diversidade étnica ainda amplia drasticamente capacidade de responder às demandas do mercado global.”
Um estudo recente do Instituto Ethos revela que apenas 21,1% das empresas brasileiras têm metas para líderes negros, e um primeiro passo essencial é implementar políticas inclusivas com objetivos claros e mensuráveis, especialmente para aumentar a representatividade negra em cargos de liderança.
Por si só, medidas neste sentido passam a tratar o combate ao racismo não apenas como um indicador de D&I, mas como um dos pilares estratégicos da empresa. Quanto mais pessoas negras em cargos de liderança, mais pessoas de setores de entrada entendem que são, sim, aptas a ocupar cargos melhores, motivando a própria busca por mais capacitação, não mais se conformando com ter um cargo, e mirando na progressão de carreira.
Ações Diárias e Compromisso Real
Naturalmente, o benefício competitivo é muito bem-vindo, sim, mas o objetivo deve sempre focar na promoção de espaços inclusivos que reflitam em números a diversidade real da sociedade. Então, mais do que ações simbólicas, as empresas devem transformar princípios em práticas diárias que partam da admissão do funcionário ao seu plano de carreira, passando, evidentemente, por suas vivências diárias.
O recrutamento é um ponto crítico para inclusão racial, e os processos seletivos devem ser revisados para garantir critérios que valorizem a equidade e a representatividade. Parcerias com instituições voltadas à formação de pessoas negras e iniciativas como programas de trainee exclusivos para grupos sub-representados são exemplos de práticas transformadoras.
Espaços ativamente antirracistas com segurança e transparência
A economia e estrutura social do nosso país é fruto de séculos de exploração de povos inicialmente escravizados, e posteriormente marginalizados. Dessa forma, todos carregamos algum tipo de comportamento racista internalizado, e os treinamentos sobre vises inconscientes e programas de conscientização são elementos cruciais de uma cultura antirracista.
Tanto os funcionários precisam estar cientes de como interagir de forma não racista, como as lideranças precisam estar capacitadas para identificar e corrigir práticas discriminatórias. Ainda assim, mesmo com todo o investimento em uma cultura antirracista, alguns episódios de discriminação vão ocorrer eventualmente e as vítimas precisam se sentir, primeiro, acolhidas por seus pares e lideranças, mas também seguras para denunciar sem medo de represálias.
Criar espaços de diálogo sobre questões raciais e canais seguros para denúncias de discriminação são passos essenciais para construir um ambiente antirracista. Além disso, o acompanhamento contínuo de metas e resultados reforça o compromisso com mudanças reais e sustentáveis.
Construir ambientes antirracistas é uma responsabilidade social que traz benefícios para todos. Empresas que adotam essa postura não apenas contribuem para uma sociedade mais justa, mas também colhem frutos em forma de inovação, engajamento e competitividade.