A ciência já descobriu algumas das informações mais importantes sobre o universo em que vivemos, mas ainda faltam muitas respostas para as diferentes áreas científicas. Por exemplo, os atuais pesquisadores ainda não encontraram muitos detalhes sobre a origem da consciência humana; até o momento não temos nenhuma ideia se a consciência é algo maior ou apenas uma construção de todas as experiências que vivenciamos durante a vida.
Em junho de 2023, durante a 26ª reunião anual da Associação para o Estudo Científico da Consciência, em Nova Iorque, grupos de pesquisadores publicaram resultados inconclusivos sobre duas teorias diferentes que podem ajudar a explicar mais sobre a consciência. A primeira foi nomeada de “teoria da informação integrada”, a segunda é chamada “teoria do espaço de trabalho global”. Muitos cientistas ficaram divididos após lerem os resultados.
A teoria da informação integrada é acusada de pseudociência por não apresentar evidências empíricas.Fonte: Getty Images
No último mês, um grupo de 124 cientistas e filósofos que estudam a consciência humana publicaram uma carta aberta que crítica negativamente a teoria da informação integrada — incluindo pesquisadores de destaque em suas áreas. Eles afirmam que o estudo é baseado em pseudociência e não deveria ser levado a sério.
Enquanto alguns pesquisadores apoiaram a carta aberta, outros apontam que essa atitude é um desfavor para a comunidade científica. Conforme eles explicam, discordar ou não apoiar a teoria da informação integrada é completamente normal, mas chamá-la de pseudociência pode ser um grande um problema para a comunidade científica.
IIT has many problems. but “pseudoscience” is like dropping a nuclear bomb over a regional dispute. it’s disproportionate, unsupported by good reasoning, and does vast collateral damage to the field far beyond IIT. as in vietnam: “we had to destroy the field in order to save it.”
— David Chalmers (@davidchalmers42) September 18, 2023
“A IIT (teoria da informação integrada) tem muitos problemas, mas ‘pseudociência’ é como lançar uma bomba nuclear sobre uma disputa regional. É desproporcional, não tem um bom raciocínio de apoio e causa danos vastos e colaterais ao campo muito além do IIT. Como no Vietnã: ‘tivemos que destruir o campo para salvá-lo’”, disse o filósofo australiano, David John Chalmers, em publicação no X (antigo Twitter).
Teorias sobre a origem da consciência
Apesar da apresentação dos estudos em junho de 2023, a teoria da informação integrada foi originalmente proposta em 2004, pelo neurocientista italiano Giulio Tononi. Quase 20 anos após os primeiros esboços, a teoria já está em sua quarta versão e tenta explicar como a consciência humana é originada.
Como é um estudo extenso e científico, não é tão simples de ser explicado, mas resumindo: a teoria da informação integrada sugere que a consciência funciona como um sistema de informação integrada, capaz de absorver informações interconectadas dentro deste sistema. Além disso, Tononi argumenta que a percepção da realidade é única, ou seja, não seria possível que duas consciências experienciassem o mundo da mesma forma.
A teoria sugere que até mesmo os sistemas mais simples da natureza fazem parte dessa rede integrada de consciência; inclusive, redes inativas de circuito de computador poderiam fazer parte da mesma estrutura consciencial descrita.
Enquanto isso, a teoria do espaço global foi proposta originalmente em 1988, por Bernard Baars. Ela teoriza que as consciências estão em um espaço global que funciona como um processador de todos os seres conscientes. Ou seja, além de acontecer diretamente no cérebro de cada indivíduo, ela também seria compartilhada com todas as outras percepções de realidade no universo.
A pseudociência da informação integrada
A carta aberta que crítica a teoria tem três principais críticas:
- A primeira afirma que esta não é a principal teoria da área e que tem recebido mais atenção do que deveria.
- Na segunda, os cientistas expressam preocupação em relação ao impacto que a teoria pode causar na vida das pessoas, por exemplo, poderia afetar estudos sobre células-tronco, testes em animais e até em discussões sobre aborto.
- Em terceiro lugar, a carta aponta que a teoria é uma pseudociência, algo que causou muitas críticas.
“Essas alegações têm sido amplamente consideradas incontestáveis, não científicas, ‘mágicas’ ou um ‘afastamento da ciência como a conhecemos’. Dados seus compromissos panpsiquistas, até que a teoria como um todo — não apenas alguns componentes auxiliares selecionados trivialmente compartilhados por muitos outros ou já conhecidos como verdadeiros — seja empiricamente testável, sentimos que o rótulo de pseudociência deve realmente ser aplicado. Lamentavelmente, dados os eventos recentes e o aumento do interesse público, tornou-se especialmente necessário corrigir essa questão”, os 124 cientistas descrevem na carta aberta.
Alguns cientistas acreditam que se trata de pseudociência, mas outros afirmam que a acusação é injusta e imprecisa.Fonte: Getty Images
O que é pseudociência?
O termo pseudociência é comumente utilizado para descrever pensamentos, práticas e crenças que se afirmam como científicas, contudo, não são capazes de apresentas evidências empíricas ou aplicar métodos científicos sobre tais informações. Por exemplo, astrologia, homeopatia, numerologia e criacionismo são considerados temas pseudocientíficos.
Segundo a carta, um dos ‘problemas’ que a teoria pode fomentar é uma discussão sobre o aborto sem uma base científica real. Por exemplo, o estudo propõe que fetos humanos em fases iniciais de desenvolvimento provavelmente tem consciência; de qualquer forma, nenhuma teoria ‘confirmou’ que o surgimento da consciência acontece antes de 26 semanas de gestação — ou seja, além de afetar o campo científico, o argumento também pode causar um alvoroço em movimentos políticos e religiosos.
Em uma publicação no site The Conversation, o professor de filosofia da Universidade Monash (Austrália), Tim Bayne, afirma que não é possível realizar testes em praticamente nenhuma teoria consciencial, por isso, não há justificativa para tratar a teoria como uma pseudociência. Além de ser imprecisa, a acusação pode ser injusta com parte da comunidade científica.
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