Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Apesar da forte tendência de academias low-cost com baixa supervisão profissional (tanto em quantidade de profissionais como em qualidade), um novo estudo mostrou que a supervisão profissional na musculação importa e gera mais resultados. Saiba como foi realizado esse experimento científico e entenda como a supervisão de profissional pode te ajudar.
Conheça o estudo
Pesquisadores recrutaram 45 praticantes de musculação recreacionais com experiência de treino de pelo menos 1 ano de uma população universitária para treinar durante 2 meses. Nove destes não conseguiram concluir o estudo por diversas razões e o restante (36 pessoas) foi dividido em:
- Grupo com supervisão profissional (20): nesse os praticantes foram incentivados verbalmente a levar as séries de cada exercício até a falha muscular (o ponto em que uma repetição não poderia mais ser realizada completamente), por um profissional no estilo personal trainer que também dava feedbacks sobre a técnica de exercício;
- Grupo sem supervisão profissional (16): nesse os praticantes foram instruídos a treinar até a falha, mas sem o acompanhamento de alguém.
O mais recente estudo demonstra os benefícios do treinamento personalizado.Fonte: Getty Images
Os dois grupos fizeram 3 treinos por semana durante 8 semanas, sendo que os exercícios de musculação foram uma sequência full-body: puxador frente (costas), desenvolvimento máquina (ombros), supino máquina (peitoral), tríceps corda, rosca bíceps halteres, leg press (quadríceps), extensora e flexora (anteriores e posteriores de coxa). Foram realizadas 3 séries de 8 a 12 repetições com 2 minutos de intervalo, para cada exercício.
A aderência (o quanto dos treinos propostos foi cumprido) no grupo supervisionado foi de 96%, enquanto foi de 92% para os sem supervisão profissional, foram 7 desistências no grupo que treinava por conta própria e apenas duas no grupo com acompanhamento.
O que foi testado e comparado entre os grupos: composição corporal (bioimpedância), hipertrofia muscular (via ultrassom), força com 1 repetição máxima no agachamento e supino, salto contramovimento.
Os dois grupos tiveram melhora nos aspectos. Mas na maioria das medidas, o treino supervisionado gerou resultados superiores. Quem foi supervisionado aumentou mais sua massa magra, assim como (hipertrofia) o tríceps e medidas na coxa e a força no agachamento (1RM).
O que dizem os estudos anteriores
Um dos primeiros estudos a testar a hipótese de que treinar com personal trainer pode gerar mais resultados foi publicado em 2014. Homens foram divididos em dois grupos: um que treinou por conta própria e outro grupo que treinou com personal trainer, ambos grupos com 17 homens treinando três vezes por semana durante três meses.
Após esse período, os resultados demonstraram que os indivíduos que treinaram com personal aumentaram a massa magra em 1,3 kg, enquanto não houve mudança nos que treinaram sozinhos. O mesmo foi observado na força muscular, nos exercícios de supino e no leg press, e na potência de membros inferiores também.
Os benefícios do treinamento com acompanhamento profissional são evidentes na literatura.Fonte: Getty Images
Outra pesquisa, de 2017, comparou as diferenças em força muscular e carga entre sujeitos treinados, alguns com a supervisão de personal trainer e outros sem a supervisão específica. Os resultados demonstraram a superioridade de se treinar com personal.
Os exercícios testados foram leg press, supino, extensão de joelhos e rosca direta e os que treinaram com personal executaram com maior carga. O esforço percebido também foi maior no grupo que treinou com o treinador pessoal, o que é positivo.
Como a supervisão profissional pode te ajudar
Me impressiona como o profissional de Educação Física passa despercebido em muitas academias atualmente, infelizmente. Esse é um dos poucos ambientes – dos locais com profissionais de saúde, em que muitas pessoas entram e não abordam o profissional presente, assim como também ocorre muitas vezes em farmácias quando compramos um medicamento sem orientação médica ou do farmacêutico.
Mas isso, ainda bem, não tem ocorrido com outros profissionais da saúde como fisioterapeutas em suas clínicas, médicos e enfermeiros em hospitais, assim como psicólogos, nutricionistas, dentistas e fonoaudiólogos em seus consultórios.
Além da supervisão e prescrição de exercícios detalhada, o apoio, incentivo e feedback do profissional no treinamento individualizado, o qual podem levar a treinos mais intensos e talvez mais resultados, uma das principais vantagens desse tipo de atendimento é o social.
Nesse sentido, o efeito Hawthorne é um fenômeno que em parte explica os resultados: as pessoas mudam seu comportamento e tentam fazer melhor quando são observadas. Isso é importante em algo fundamental: motivação.
A conexão social pode ser importante, como uma necessidade psicológica básica, para o vínculo entre profissional e praticante, o qual é um determinante relevante para aderência aos exercícios físicos, especialmente no contexto de academia, em que o praticante na maioria dos casos, treina sozinho e sem interações sociais, especialmente em academias grandes. Como muitos dos resultados desejados são de cunho estético e dependem de estímulos frequentes, aderência é a base inegociável.
Ter o auxílio de um personal trainer na prática da atividade física pode contribuir com a motivação para continuar se exercitando. Fonte: Getty Images
Marcar o treino como um compromisso com o personal pode fazer diferença quando por muitas vezes não temos vontade ou energia para exercícios em determinados dias. Esse aspecto foi comentado pelos autores do mais recente estudo, pois quando eles falaram com os participantes após o estudo terminar, vários dos que treinaram com supervisão mencionaram que esse acompanhamento os responsabilizava com o cronograma de treino e que isso os motivou a comparecer mesmo quando não tinham vontade.
Caso você não consiga pagar um personal trainer, marcar o treino com um amigo e encará-lo como um compromisso social, pode ajudar. Inclusive, os autores sugerem que além da supervisão, como de personal trainer, promover benefícios hipertróficos, outra possibilidade é o treino com um amigo, o qual também pode proporcionar efeitos positivos.
Segundo um dos autores do estudo e o maior pesquisador sobre musculação na atualidade, essencialmente poderia ajudar alguém que monitorasse a técnica do exercício, sugerindo correções quando apropriado e motivando o colega a fazer força em cada série, o que sabemos que no Brasil cabe ao profissional de Educação Física fazer. Uma dica científica é: torne o exercício uma atividade social!
****
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinville (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.