“Hoje em dia vende-se tudo pela internet, não é?”, diria uma avó após ver o neto receber em casa um Batman de papelão em tamanho real. E a senhora está, de fato, correta, já que a gama de produtos vendidos online é inimaginável.
Em andanças por esta avenida quase infinita chamada internet, nos deparamos com anúncios de caixas vazias de iPhone. Chamadas de “compatíveis”, elas custam de R$ 10 até mais de R$ 80 cada.
São vários os modelos de caixas vazias de iPhone disponíveis à venda na internet (Imagem: Reprodução/Mercado Livre)
As embalagens, que podem ser encontradas em sites como eBay, Shopee e Mercado Livre, são de modelos como iPhone 11, iPhone 12, iPhone XR, iPhone 13 Pro Max e outros.
Aparelhos mais antigos como Samsung Galaxy A20, Galaxy A10, LG K62, Motorola G20, Moto G9 Power e Moto G1 também têm suas caixinhas nas vitrines virtuais.
Pela Shopee é possível encontrar uma enorme gama de caixas vazias de celulares (Imagem: Reprodução/Shopee)
Mas afinal de contas, para que serve uma caixa vazia de celular? Por que alguém compraria isso? O TecMundo resolveu investigar e contar sobre essa descoberta.
Quem compra uma caixa vazia de celular?
A reportagem conversou por telefone com um gerente comercial de uma loja de Santa Catarina que comercializa acessórios para celular. Ele preferiu não se identificar por não ser o dono da empresa, mas contou que o negócio é lucrativo.
“O fluxo de vendas das caixas de iPhone tem sido muito bom e a saída é bem frequente. Isso se deve principalmente por causa do aumento nas vendas de celulares seminovos, já que os novos estão cada vez mais caros”, pontua.
Respondendo que as caixinhas compatíveis servem para quem quer vender celulares usados, o gerente explicou que, no caso da loja dele, os clientes que compram as caixinhas são em sua maioria outros lojistas. Por isso, os produtos são vendidos somente no varejo.
“O fluxo de vendas das caixas de iPhone tem sido muito bom e a saída é bem frequente”.
As caixinhas compatíveis com iPhone 11 estão dentre as mais vendidas (Imagem: Colleen Michaels/Getty Images)
“Nós temos a nossa gráfica também, então vendemos com pedidos mínimos de 12 unidades das caixas genéricas e a partir de 50 unidades de caixas personalizadas. Temos clientes no Brasil inteiro e eles compram porque dá mais credibilidade. Antes das caixinhas, as pessoas revendiam celulares seminovos embalados em plástico bolha, o que era bastante feio”, explica a fonte.
Uso decorativo
Em entrevista ao TecMundo, Jéssica Katerine, que é sócia-proprietária da loja Rei das Películas, conta sobre outros tipos de públicos que compram caixas vazias de iPhone. Além de fornecer para lojas e pessoas que vão vender aparelhos usados, há também empreendedores que compram para usar as embalagens como decoração.
“Quando se trata de iPhone tudo tem valor, até a caixinha. Então têm lojistas que deixam as caixas na vitrine ou dentro do estabelecimento para fazer um volume, já que elas sempre chamam a atenção”, explica.
A empresária afirma que os produtos não são originais, e por isso são chamados de “compatíveis”, e as unidades vendidas pela sua loja são importadas da China. Ela afirma que os produtos são “praticamente idênticos” aos originais. Dentro dos recipientes estão inseridos um manual (que é genérico), a chave ejetora e o envelope para guardar o celular.
“Quando se trata de iPhone tudo tem valor, até a caixinha”.
Uma caixa compatível com um iPhone 13 Pro Max (Imagem: Reprodução/Mercado Livre)
Caixas compatíveis com modelos como o iPhone 11 Pro Max, uma das que mais vendem no comércio de Katerine, têm até um espaço para o carregador.
Apesar de vender mais através de marketplaces como o Mercado Livre, o Rei das Películas também comercializa caixas na loja física no centro de São Paulo. Por atrair olhares, o lugar já foi vítima de um roubo.
“Há um tempo arrombaram a loja do lado e acabaram entrando na nossa também. Os bandidos queriam roubar celulares e acharam que eles estavam nas caixas vazias que vendemos. A pessoa foi detida pela polícia, precisamos ir em audiência e tudo, mas foi uma grande dor de cabeça”, revela Katerine.
Mas e os golpes?
Muito possivelmente você conhece ou já foi vítima de algum tipo de golpe em compras pela internet. Um dos mais comuns envolve justamente o envio de uma embalagem com uma pedra, por exemplo, ao invés do celular.
São dezenas os relatos de casos assim, incluindo o do Gilvandro Silva, morador de Parintins, cidade do interior do Amazonas, e do seo Francisco Souza Lira, de Goiânia (GO).
O gerente comercial da loja de Santa Catarina que conversou com o TecMundo admite que existe essa possibilidade de as caixas serem utilizadas para cometer golpes. “Mas eu nunca ouvi relato de que fizeram isso com as caixas que nós vendemos”, ressalta.
As caixas compatíveis com iPhone poderiam, em tese, ser utilizadas por golpistas (Imagem: dannikonov/Getty Images)
Jéssica Katerine também relata não ter conhecimento de uma pessoa que comprou uma caixinha para revender um celular roubado. Apesar de argumentar que possivelmente estas situações existem, ela lembra que é muito difícil desbloquear o celular da Apple (apesar de ser possível).
“Não tem como garantir que não existem pessoas que fazem isso, mas a verdade é que não teria muita lógica [de o bandido comprar a caixa para revender o celular furtado ou roubado]. Nessa parte do comércio ilegal os criminosos conseguem fazer negócios mais rentáveis vendendo as peças, por exemplo, já que tem tela de iPhone que custa R$ 800 ou R$ 1 mil”, diz a empresária.
Outro lado
O TecMundo entrou em contato com o Mercado Livre, que explicou que a venda das caixinhas compatíveis não é proibida nem pela legislação e nem pelas regras da própria plataforma.
A reportagem também enviou e-mails para a Shopee e Apple, mas as empresas não responderam até o fechamento do texto.